Por um lado falhei,
Malogrei e errei.
Não encontrei um modo de definir o amor.
Não o assumi como platônico masoquista ou perfeito.
Levantei os defeitos e
Matei no peito.
Sem ter este direito
De escrever desconhecido,
Surdo e corrompido.
Não alcancei a lira de Camões,
O descaso de Bocage,
o sofrimento de Vinicius
ou o sarcasmo de Drumond.
Subordinei a oração
E me perdi na multidão,
Extravasei a métrica,
Insulei a rima
Transbordei a tina
Sem auxilio de mãos
Sem animo ou guidão
Parti na contramão.
Busquei inspiração,
Não posso exaltar meu amor às mulheres
Pois estas, dotadas de sabedoria.
Esquivam-se dos meus trejeitos,
Sou singelo deleito,
Nem como enfeite
Poderia me arriscar.
Meu peito que quer sempre chorar,
Dorme omisso, procura exilo,
Sorrindo de desespero.
Meus olhos já não expressam o que pretendo
Quase perco o fôlego
Rindo dos maquiavélicos insultos.
Nem uma gota de água
Para os insalubres defuntos.
Esqueço que me padeço,
Moribundo em um berço.
Nem na natureza encontrei
Fonte de louvor
Embora estarrecido por sua beleza.
Encherguei a delicadeza
Para poder progredir.
Vejamos agora o outro lado.
Por não amar
Não consigo odiar.
Por não pregar
Nenhuma cruz vou carregar.
Viverei inquieto e
Morrerei certo
De que na poesia me deitei
As palavras abracei,
E as moedas joguei
Perdi duas em três
Mas nem assim virei freguês.
Por isso vivo assim,
Desajeitado e pouco falado
Para muitos
Passei como um cometa
Com um brilho distante e intocável.
Para alguns sei que me transformei
Virei bedel e depois rei.
Para outros perseverei,
Em afagos e bordões, corações toquei.
Admito que todos amei
Pois como já disse antes
A utopia é o bálsamo da decepção.
Ergam-se arrepiados os tambores da infelicidade que pairam sobre mim,
Pois nem o mais triste sorriso
Abala minha calma.
Gabriel Delitti
(22/04/06)