Por onde começar?
A princípio comecei reconstruindo meus passos. Um de cada vez, com calma, me refazendo em cada passo dado, respirando fundo a cada tropeção que encontrava no caminho. E foram vários, não é fácil! Não tem muito tempo, mas pela primeira vez eu me vejo diferente, eu vejo a situação de forma diferente, eu o vejo diferente. Não há desespero, não há sofrimento, não há perdão.
Nunca fui "moça de família", o que é ridículo de falar porque, sinceramente, é só mulher "de família" que tem que ser respeitada?? Enfim, sempre fui muito livre, voava alto, me sentia linda na forma que estivesse, usava minhas blusas transparentes, shorts curtos, sutiã aparecendo, saltos enormes, batons coloridos...sempre falei de sexo abertamente e esse é um assunto que ADORO falar e não é porque falei disso com você, que quero te levar pra cama. Beijei homens e mulheres. Amei homens e mulheres. E sempre fui feliz comigo. Tenho uma filha e, pra ela, eu sou inspiração, sou tudo, a mulher mais foda do mundo. Crio e cuido sozinha, me viro bem na maternidade.
Bem, no início era silencioso, sempre tinha um lado bom pra compensar. É clichê, mas tudo são flores. Haviam poucas brigas e nessas horas uma pessoa super diferente daquela que conheci, depois o arrependimento, mil promessas, jantares, passeios, conquistas...e aí sempre vinham as justificativas: "Eu errei mas a culpa é tua de fazer....", "Eu não acho bacana tu falares de sexo, o que meus amigos vão achar de ti?", "Pelo amor de deus, nem comenta esse papo de que ficastes com mulher porque meus amigos e família podem te reprovar, """"mas eu não me importo""""!", "Essa tua blusa não tá legal, aparece tudo!", "Não quero que fales mais com esse teu amigo, se tu já não ficastes, selado que vais ficar!", "Vais sair com quem? Com essa maconheira?", "Meus amigos não gostam de ti porque tu és muito intrometida" , "A culpa é tua deles não gostarem de ti, quisestes ir logo sendo amiga deles, não é assim!", "A culpa da minha ex falar mal de ti, é tua, tu que ficas te expondo na internet!", "Minha tia falou que tu expõe muito tua vida na internet!" (nem postava mais nada), "Meus amigos e minha mãe falam mal da criação que tu dás pra tua filha!", "Eu não acho que tu saibas educar, porque se fosse meu filho, já tinha levado muita palmada!", "Eu nao acredito que tu postastes essa foto, apaga que tá horrível!", "Já tá andando sem sutiã?!", "Sabes que eu não gosto que andes sem sutiã pela casa!" (ps.: a minha casa, com a MINHA família), "E esse short, tu vais com ele? Não tá muito curto?", "Tu és doida, descompensada, precisa de tratamento!"................isso no início, no final existiram coisas piores.
Aí me afastei de amigos e na verdade, nem foi porque eu quis, foi porque o discurso do "bom orador", fazia com que eu me sentisse culpa pelas coisas que ele falava, e como não gosto de guerra, eu apenas pedia desculpas e deixava passar. Mea culpa, réu confesso, acabei mimando demais.
Em todas as brigas, eu ficava fudida em casa, estava sem emprego e sequer tinha dinheiro pra sair pra uma cervejinha com amigos, fora que tenho minha filha e tudo que batalhava financeiramente, era pra pagar a faculdade que voltei a cursar.
Quando ligava pra ele, ele nem atendia. Se atendia, me tratava que nem bosta. Me culpava por estar fazendo o que estava. Mas no fundo, não estava nem aí, sumia por 1 ou 2 dias, bebia que nem um condenado, e quando aparecia, eu ficava mal pelo que ele fez, mas pedia pra gente se entender... e por aí fomos caminhando por 1 ano. Depois disso, fui tomando meu espaço, percebendo e trabalhando internamente a minha mentalidade e entendendo que eu não era culpada por tudo, como ele falava.
Errei algumas vezes? CLARO, não sou santa, sou de carne e osso. E passei muito perrengue quando errei. Deus me livre! Era humilhada, ofendida.. e com o tempo , a violência psicológica me tornou uma pessoa fora do eixo, em qualquer briga eu surtava, agredia, rasgava, urrava...voltei a ter depressão e crises de ansiedade fortíssimas, além de ter aquela tremedeira carnal de ódio, sabe? Voltei a tomar remédio pra controlar meus impulsos e tive meu problema menosprezado: "Todo mundo tem problemas na vida, aprende a lidar com os teus pq não adianta nada ficar em depressão e ficar só nesse teu mimimi"...
Entendam, depressão não é algo simples assim. De forma didática e resumida, ela é como uma semente plantada num solo super fértil, seu cérebro, e qualquer coisa que o "regue" (ofensas, humilhações, críticas e comentários maldosos, e até mesmo a auto-sabotagem), faz com que essa semente germine e cresça de uma forma veloz, que toma conta de todas as tuas horas, teus dias, te impede de acordar, de comer e de dormir, te faz sentir incapaz, lixo, sujo..nada disso foi respeitado, muito pelo contrário. Me viraram as costas.
Luto ainda, todos os dias, contra tudo isso. As vezes, mando mensagem aos amigos, que pouco me dão papo de pois disso, mas saibam, amigos, essas mensagens são gritos de socorro sufocados. São pedidos de "me dêem um abraço por favor, me façam uma visita!", uma forma de mostrar pra vocês que não estamos sumidos, estamos aqui. E entendam, se aquela tua amiga tá namorando e some por toda vida e você sabe que a relação tem muitos altos e baixos, a procure, não a deixe só. Estamos aqui para protegermos e ajudarmos umas as outras.
Entre saídas escondidas, opressão, humilhações e ofensas, mais mentirinhas envolvendo os outros, entre agredir e ser agredida, problemas com excesso de bebida, brigas por tudo, sem motivo e sem sentido, desconfianças, invasão de privacidade, violência psicológica, violência física, agressão verbal....o fim!
E como chegou a isso?
Em nós: bêbado, não interpretou bem algo que falei. Foi embora, saiu, bebeu por quase 24h ininterruptamente, inventou uma mentira com o meu nome, envolveu amigos, tentou fazer com que acreditassem que eu era doida.
Em mim: faz tempo que não me calo, que não abaixo minha cabeça, fui tirar satisfação com os amigos por conta da fofoca, era tudo mentira.
O término não foi como pensei, achei que pudesse ser de forma civilizada quando tivesse que ser, até porque ninguém mais estava muito bem na relação e era totalmente compreensível um término, mas não..preferiu que fosse da pior forma possível, com mentiras, humilhações, fofocas com o meu nome, me senti traída, decepcionada. Como pode alguém que tu dividistes a vida, os sonhos, os planos, a família, fazer uma coisa dessas? Inventar uma mentira pra justificar o seu próprio erro e fazer com que teus amigos achem que tu és doida e se virem contra você? Baixo...muito baixo!
Ainda tem muito mais por trás de tudo isso, questões que não valem a pena citar, mais uma vez friso que tive minha culpa também no relacionamento, mas tenho certeza que fiz tudo que pude e se hoje acredito que errei, não foi pelas coisas que me colocaram a culpa, mas sim por ter aceitado tudo isso por todo esse tempo. Enfim, me sinto mal, me sinto triste, pois coisas ruins com o intuito de desmerecer tudo que foi vivido, foram ditas e me sinto traída emocionalmente, além de humilhadíssima, mas em contrapartida, me sinto leve com a decisão que tomei. Leve e determinada! E a missão a ser cumprida é: sair totalmente do pior relacionamento abusivo que tive em toda a minha vida e a pior parte é que eu sempre entendi isso, mas não conseguia sair...
Se eu choro, saiba que não é de saudade e sim de vergonha por ter acreditado que tudo um dia mudaria, por ter me anulado todo esse tempo, ter deixado de viver parte da minha vida com meus amigos, os melhores que tenho, entre eles amigos de vida e família. Se choro é de vergonha de não ter mais o meu brilho, a minha gana, minha vida...mas já comecei a me reconstruir. Um passo de cada vez, com calma, me refazendo em cada passo dado, respirando fundo a cada tropeção que encontro no caminho. Já foram vários e serão muito mais, não vai ser fácil! A diferença é que agora, eu recuperei minha força antes mesmo de cair!